Adultização, o que é?

Adultização: o que é?
A “adultização” é o processo — geralmente prejudicial — de tratar crianças ou adolescentes como se fossem adultos antes do tempo, atribuindo a eles responsabilidades, comportamentos ou aparências que não condizem com sua idade e estágio de desenvolvimento.
Embora o tema tenha ganhado mais visibilidade nos últimos anos, é algo que ocorre há muito tempo.
Algumas formas comuns de adultização incluem:
- Na aparência: quando se incentiva ou impõe roupas, maquiagem e estilos tipicamente adultos a crianças. Esse aspecto costuma ser fortemente influenciado pelo círculo social e pela cultura em que a criança está inserida.
- No comportamento: ocorre quando se exige da criança maturidade emocional ou a assunção de responsabilidades típicas de adultos, como cuidar de irmãos, gerenciar finanças ou tomar decisões complexas. Um exemplo histórico — e que infelizmente ainda persiste em alguns países — são os casamentos arranjados ou uniões precoces, muitas vezes envolvendo meninas obrigadas pelos pais a iniciar precocemente a vida adulta.
- Na sexualização precoce: um dos aspectos mais preocupantes, ocorre quando comportamentos, discursos ou imagens de cunho sexual são atribuídos a menores. Isso é comum, especialmente nas redes sociais, onde crianças são expostas em busca de “views”, muitas vezes incentivadas por pais ou “caçadores de talentos” que promovem esse tipo de conteúdo visando lucro.
- Na cobrança social: quando a criança é pressionada a “amadurecer” cedo demais, deixando de brincar e viver plenamente a infância. Isso pode acontecer, por exemplo, com exigências excessivas em relação a estudos e desempenho escolar.
- Impactos da Adultização
- Sobrecarga emocional e psicológica
- Ao assumir responsabilidades e pressões típicas da vida adulta, a criança é exposta a níveis de estresse para os quais não está preparada.
- Isso pode levar a quadros de ansiedade, depressão, insegurança e dificuldade em lidar com frustrações.
- Risco de sexualização precoce
- A exposição a contextos e estímulos de cunho sexual antes do tempo pode gerar confusão, vulnerabilidade a abusos e problemas de autoestima e autopercepção do corpo.
- No meio social, essa exposição torna-se porta de entrada para pedófilos, que podem utilizar imagens e vídeos dessas crianças para fins ilícitos, ampliando ainda mais os riscos e danos.
- Dificuldades na vida adulta
- Pessoas adultizadas cedo demais tendem a carregar traumas, desenvolver padrões de relacionamento desequilibrados e sentir que “não tiveram tempo de viver para si”.
- Esses impactos podem refletir-se em escolhas profissionais, relações afetivas e até na capacidade de lazer.
- Pesquisas recentes apontam que tais problemas vêm crescendo entre as novas gerações. Não é difícil entender o motivo: o ambiente tecnológico que molda a sociedade, aliado a círculos sociais viciosos sustentados pela adultização, cria um cenário em que dificilmente surgem consequências diferentes das mencionadas acima.
A adultização rouba da criança o tempo e o espaço de viver plenamente sua infância, deixando marcas emocionais e sociais que podem durar para sempre. É dever de todos — família, escola e sociedade — identificar e combater essa prática, preservando a inocência e o desenvolvimento natural. Proteger a infância hoje é garantir adultos mais saudáveis e uma sociedade mais equilibrada amanhã.
- Dados relevantes:
Entre os anos de 2021 e 2024, o Brasil registrou 110.449 denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes. A tendência é de crescimento, e o auge ocorreu em 2024, quando foram registradas 36.802 denúncias, com um aumento de 95,6% em relação a 2021 (18.809). Os dados foram fornecidos pelo Painel de Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/brasil-registrou-110-mil-denuncias-de-abuso-sexual-infantil-em-4-anos - 88% da população brasileira de 9 a 17 anos disse manter perfis em plataformas digitais. Entre 15 e 17 anos, a proporção foi de 99%. Disponível em: https://cetic.br/pt/noticia/tic-kids-online-brasil-2023-criancas-estao-se-conectando-a-internet-mais-cedo-no-pais/
Cuidar da infância é investir no futuro: proteger, orientar e permitir que cada criança cresça no seu tempo é a maior forma de respeito e amor.
ELIEL MARAFIGO DE SOUZA
ASTERIN